Muitos “psi”?
Entenda o que é a psicoterapia ou terapia e como ela funciona
Há ainda muitas dúvidas sobre o que é e como funciona a psicoterapia. Além disso, muitas vezes termos como psicologia, psicanálise, psiquiatria, terapia geram confusão. Há diferenças entre eles?
A psicoterapia e um processo, uma jornada rumo ao autodescobrimento. Por ser um processo, ocorre gradualmente e requer uma certa frequência e constância. Cada psicólogo se especializa em uma (ou mais) abordagem ou linha/escola de psicoterapia. A mais conhecida é a psicanálise, criada por Sigmund Freud. No entanto, há muitas outras abordagens diferentes, como a análise junguiana, a reichiana, a winnicotiana, a análise do comportamento, a terapia cognitivo-comportamental, a terapia de aceitação e comprometimento, a terapia racional emotiva comportamental, só para dar alguns exemplos.
Qualquer que seja a abordagem, todas tem fundamentalmente o mesmo objetivo: ajudar o cliente a refletir e clarificar aspectos de sua vida, levando ao autoconhecimento e bem estar. No caso de transtornos psiquiátricos, o objetivo principal é o alívio dos sintomas, e o autoconhecimento vai ocorrendo em paralelo, conforme terapeuta e cliente vão compreendendo como os sintomas apareceram, porque apareceram em determinado momento de vida, etc. O que diferem as abordagens são as ferramentas que cada uma utilizará para alcançar estes objetivos.
Há muitos elementos importantes para o bom desenvolvimento de um processo terapêutico. Eu destaco três.
Primeiro, é necessário que o cliente esteja motivado a investir no tratamento e aberto a, junto com o psicólogo, olhar para e pensar sobre aspectos de sua vida. A psicoterapia não é sempre fácil. Falar e pensar sobre eventos traumáticos, tristes e difíceis exige uma boa quantidade de energia, dedicação e coragem, mas é recompensador e libertador. O psicólogo é o profissional que está comprometido em incentivar o cliente a se aventurar nos caminhos do autodescobindo, sempre respeitando a velocidade de cada um. A terapia não acontece só nas sessões semanais, mas também durante todo o resto da semana, mesmo na ausência do terapeuta. Isso porque é importante que o cliente reflita sobre o que foi trabalhado na sessão, e como o que foi conversado e aprendido se enquadra em sua vida diária, que mudanças podem ser feitas.
O segundo fator importante é a relação terapêutica. Esse é o nome dado ao vínculo que vai se formando entre o cliente e o psicólogo. É normal que sejam necessárias algumas sessões para que o cliente se sinta completamente à vontade e confiante no psicólogo para abrir-se completamente. No entanto, para o bom andamento da terapia, o cliente precisa confiar nas habilidades profissionais do psicólogo e sentir empatia pelo profissional. Sem confiança, o processo nao evolui.
Um terceiro fator essencial para o tratamento é a frequência e constância das sessões. Geralmente, as sessões ocorrem com uma frequência de uma vez por semana, mas podem ser feitas mais sessões a cada semana. O tratamento pode durar de alguns meses até varios anos. A duração do tratamento depende dos objetivos de cada cliente, da abordagem de psicoterapia, da cronicidade dos sintomas, da relação terapêutica e da velocidade de mudança particular de cada um. Mas é essencial enfatizar que em apenas uma ou mesmo 3 ou 4 sessões, é muito difícil que o psicólogo consiga ajudar o cliente a “resolver” todas as suas queixas ou dificuldades. Frequentemente as pessoas me perguntam se em uma única sessão um psicólogo dizer porque elas são de determinada maneira ou porque agem de certo modo. Apesar da terapia já trazer beneficios desde a 1a sessão, seria irreal e desleal por parte do terapeuta dizer com certeza que sim. O psicólogo também necessita de algumas sessões para conhecer o cliente e compreender seu desenvolvimento emocional, as circunstâncias que o cercam e os seus objetivos. O desenvolvimento emocional humano é tão complexo que seria até arrogante por parte do psicólogo dizer que consegue ajudar o cliente com somente uma sessão. O psicólogo não é o detentor absoluto de todo o conhecimento e não tem as imediatas respostas para tudo; é apenas um profissional que foi treinado para facilitar e direcionar a autodescoberta do cliente.
Por fim, gostaria de definir alguns termos relacionados a psicoterapia e a saúde mental que às vezes geram confusão.
Psicólogo: profissional que cursou psicologia e se especializou em uma linha (às vezes mais) de psicoterapia. Não prescreve medicação.
Psiquiatra: profissional que cursou medicina e se especializou em psiquiatria. Pode receitar remédios.
Conselheiro: profissional que não necessariamente cursou psicologia mas faz aconselhamento, um tipo de terapia. Não é uma denominação comum no Brasil, mas no Reino Unido é comum encontrar conselheiros com graduação em administração, economia ou qualquer outra área que fez um curso curto de aconselhamento e faz terapia. Psicólogos podem ser conselheiros e trabalhar com aconselhamento, mas não necessariamente um conselheiro é formado em psicologia.
Psicoterapia: é o processo de terapia psicológica.
Terapia: frequentemente usada como sinônimo de psicoterapia.
Psicanálise: linha de psicoterapia criada por Sigmund Freud.
Análise: frequentemente usada como sinonimo de psicanálise.